segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

O fim do começo...

Aqui estou eu... No Brasil, em Valinhos, mais precisamente na sala de casa. Depois de um ano e dez dias fora do Brasil e já há quase seis anos sem morar com meus pais, volto a sentar nessa cadeira para escrever, aproveitando o pouco tempo de calma e silêncio, em meio a tantas festas, visitas e reencontros. 

Durante os últimos meses passei por muitas famílias, que me acolheram como filho e me ensinaram grandes lições, mas é agora, ao lado da minha verdadeira família que passo a sentir algo muito bom e intenso. Um sentimento único, que tentarei explicar.


Não consigo controlar a minha cabeça, ela não para de refletir e analisar tudo o que vivi no último ano e principalmente nas últimas semanas. Mostrar fotos e falar sobre a viagem faz parte do momento e isso só só me traz ainda mais reflexões.

A conclusão é rápida, óbvia, mas precisa ser dita: sou o cara mais sortudo do mundo e é muito bom estar de volta.

Sempre dei valor para o que tive, principalmente depois de sair do conforto da minha casa para passar a aproveitá-la apenas aos finais de semana. Porém agora, depois das experiências pela Austrália, Indonésia e principalmente pela África, tudo se tornou ainda ainda mais bonito para os meus olhos.

Minha família é linda, legal e carinhosa. O sofá da sala nunca foi tão confortável e a comida da minha mãe, que sempre foi (de longe) a minha preferida, hoje me da vontade de chorar, de tão boa que é. Desde a festa da recepção no aeroporto até o reencontro com os familiares e amigos, sinto-me perdido em tanta felicidade.

O conforto de casa é tão grande, que nem mesmo sei responder a simples pergunta que todos fazem: "Qual é seu plano agora?". Pois tudo o que quero é ficar aqui e aproveitar ao máximo, tudo aquilo que me encheu de saudades nos últimos meses.

Porém, o fato de estar de volta não trás só felicidade. Traz confusão! Fico, tentando entender tantas mudanças que eu encontrei por aqui. Estou reflexivo. Sei que está na hora de começar um balanço das experiências que vivi e analisar o que eu consegui trazer comigo disso tudo.

A primeira impressão veio assim que entrei em minha casa. O fato de ter me acostumado com as precárias instalações africanas e as bagunçadas moradias "estudantis" na Austrália, fizeram o meu queixo cair ao ver de novo o lugar que morei por mais tempo em minha vida. "Isso aqui parece um resort". Tomar banho quente, depois de dois meses sem essa regalia, que faz eu me sentir um rei.

Tanta alegria se mistura com um sentimento que beira a culpa. Culpa por viver em um lugar tão bom após ver tanta gente vivendo em condições tão ruins. Nada de ingratidão! Só queria que eles pudessem viver isso também. Enfim, comparações são inevitáveis e eu quase poderia prever que isso aconteceria.

Ao mesmo tempo em que vivo todas essas emoções por estar de volta, começo a sentir uma enorme gratidão por tudo o que vivi e aprendi. Principalmente, quanto a minha memória mais fresca: a África.

Aprendi ali as mais valiosas lições de gentileza, solidariedade, alegria e compaixão. Aprendi a ser igual e me comportar como um "ser igual" a qualquer outro do mundo, independente de raça, religião, classe social e blá, blá blá… 

A África me trouxe um monte de novos sentimentos, dos quais muitos ainda estão amadurecendo e talvez eu ainda precise de um tempo para entendê-los. 

"SAUDADE", uma das palavras que de tão bonita nem mesmo tem nem tradução em outras línguas, já não sai da minha cabeça. Bem ao lado dela, martela intensamente em minha cabeça a palavra "GRATIDÃO".

Agradeço por toda a experiência vivida na Austrália, Ásia e África, que de formas totalmente diferentes, me devolvem hoje ao brasil como um a pessoa muito diferente do que quando saí.

Fico agora com a grande, e não tão fácil, responsabilidade de me readaptar a vida brasileira e permitir que ela siga em frente. A missão de usar as experiências que mal acabaram, como um apoio para os próximos desafios.

Não vou considerar esse momento como o fim da minha jornada, mas sim como algo que está só começando, após um intenso e maravilhoso treinamento.

Mas planos mesmo, eu só farei daqui a um tempo. Agora tudo o que eu quero é abraçar minha família e comer um pouco mais daquele arroz, feijão e bife da minha mãe! Viva o Brasil, viva a minha casa!